Custa ser desta maneira, ninguém, zero... não há ninguém.
Muitos considerariam o desabafo como peneira, mas não é.
Quem me dera a mim não ser assim.
Não compreendo a minha adaptabilidade: é reduzida, mas quando acciona é passiva
E o meu ser toma uma postura de austeridade,
Sem me deixar ouvir o que quer dizer a saliva,
Sem me deixar descalçar no meio da cidade.
E assim, aos poucos, vou-me fechando ao mundo
Sem voltar ao meu, ficando algures no meio
Numa dimensão infernal, lá no fundo,
Onde não há claro nem escuro, nem bonito nem feio
Apenas o neutro, esse conforto mediano.
E qual é o meu medo?
Está espalhado pelas vossas faces,
Pela vossa mão e por cada dedo:
A reprovação, a repulsa, o desinteresse
Quando há um vislumbre que seja de "eu", fora da máscara,
Não fosse porcaria, antes eu vos a oferecesse.
A criança descobre a ingratidão em perplexidade,
Nada mais natural, se não fosse demais,
Mas quem aprende avança na idade, e surge
O verdadeiro dilema em que sempre cais:
Crescer, aprender; ou ser a eterna criança despreocupada?
Quem poderá dizer o que está certo e errado?
Seja qual for a "escolha" o preço a pagar é alto:
Na primeira, a infelicidade permanece, até se tornar insuportável
Na segunda, a ingenuidade tem o sofrimento na lista de consequências
Mas cuidado com essa tua mente!
Ficar onde estou, o doloroso meio, é bem mais perigoso
Enterrada no fundo desse local
Quem censura eu querer voltar...